Para garantir o distanciamento social durante a pandemia da Covid-19, diversas medidas foram adotadas pela sociedade, indo do teletrabalho às aulas remotas e compras realizadas pela rede mundial de computadores. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) tornaram-se ainda mais importantes, precisando expandir e adequar-se rapidamente para uma demanda que vinha crescendo, mas que de uma hora para outra tornou-se essencial para a continuidade e o sustento da vida.
Contudo, o acesso às TICs no Brasil não é democrático e o acesso à Internet continua não sendo equânime para o conjunto da população, em especial o campo brasileiro. Isso se torna um grave problema em momentos como o da emergência de uma crise sanitária, quando o modo virtual ou remoto se torna o principal meio de comunicação, desenvolvimento humano e até sustento entre as pessoas.
No campo, a falta de democracia digital é mais evidente, sendo que o uso da Internet está restrito ao aparelho celular para mais de 83% da população e, na maioria das vezes, se dá por meio de pacotes de dados limitado (61%) (CETIC.BR, 2022). Tanto a rede de telefonia e Internet, como a posse de equipamentos são de baixo acesso e má qualidade, podendo inclusive, ser compartilhado por vários familiares, comprometendo assim as tarefas que passaram a ser comuns e necessárias durante a pandemia.
Em relação à saúde, pouco se conhece sobre a população do campo. A elaboração dos boletins epidemiológicos, sob a responsabilidade da vigilância epidemiológica nos três níveis federativos, toma como unidade informacional os bairros, os municípios, os estados e as regiões. Não havendo, portanto, a visibilidade necessária e detalhada sobre os números de adoecimentos e óbitos ou até mesmo a situação das imunizações referentes a população do campo.
Assim, diversos territórios que se encontram no campo, não contam com dados importantes para o desenvolvimento de políticas e serviços públicos e a elaboração de estratégias capazes de mitigar o impacto causado pela pandemia.
Considerando essa realidade, a estratégia de Formação-ação em Agentes Populares de Saúde do Campo no Ceará (APSC-CE) ampliou a parceria incluindo também o Coletivo Socialtec que está desenvolvendo e mantendo o Sistema Agentes do Campo.
O Sistema envolve uma série de soluções tecnológicas, como um site, um sistema web, bancos de dados, um aplicativo para dispositivo móvel (App), além de ferramentas de mineração e visualização de dados. Tem como objetivo auxiliar no levantamento de dados dos territórios em tempo real e na organização popular dos Agentes Populares de Saúde. Por meio da coleta de dados realizada pelos APSC-CE nos domicílios, será possível conhecer a situação socioeconômica e epidemiológica de cada família no território, podendo gerar informações importantes relacionadas aos impactos da Covid-19 em tempo real, visto que os dados serão enviados e processados automaticamente à medida que forem sendo transmitidos.
Com base na análise dessa coleta será permitida à comunidade perceber seus principais problemas em saúde e como os fatores sociais e econômicos podem ser determinantes nesse processo. Com mais acesso à informação, a comunidade poderá elaborar estratégias de enfrentamento aos problemas, como ter mais elementos para cobrar políticas públicas.